quinta-feira, setembro 19, 2024
Colunas

O poder dos símbolos para aumentar a inteligência

Quem já não escutou a frase “o leão é o rei da selva“? Ou que o sol é o astro-rei? Todos nós, não é? Olavo de Carvalho citando Suzanne K. Langer ensina: “símbolo é matriz de intelecções“.

O que é matriz? É o lugar onde se é gerado.

O que é intelecção? É a capacidade da inteligência quando intelige, ou seja, quando capta algo da realidade.

Símbolo, por conseguinte, é um gerador de intelecções, de insights, percepções…

O símbolo verdadeiro alimenta a nossa inteligência fazendo com que ela, a inteligência, tenha a capacidade dela ampliada imensamente. Se, ao contrário, não contemplamos símbolos verdadeiros, emburrecemos.

Assim, temos de contemplar pinturas, ler os clássicos, escutar música de concerto que nos leva ao céu, de tão sublime que é, e por aí vai. Vocês precisam ler boa literatura, fruir música de concerto e contemplar os clássicos da pintura.

Para inteligir, ou seja, ampliar a capacidade da inteligência, é preciso ampliar antes a imaginação. Para isso, volto a repetir, é preciso ler, ver e escutar obras de arte verdadeiras. Lixo não adianta, só vai te emburrecer, te embotar, vai fazer você virar uma espécie de zumbi. A contemplação da beleza é fundamental, a fruição do belo é urgente pra sairmos ou não cairmos no buraco negro em que muitos ou melhor, a maioria está, infelizmente.

Aristóteles ensina que o primeiro passo para apreendemos, captarmos a realidade é pelos cinco sentidos. Tendo feito isso o que captamos pelos cinco sentidos vai para a imaginação. Lá colecionamos imagens do que vimos, lemos, tocamos, cheiramos, escutamos. É como se fôssemos fazer um álbum de figurinhas enorme e ficamos com um monte delas num saco cada vez maior. Dá imaginação essas figurinhas se transformam em esquemas de imagens. Por exemplo, depois de ver muitos gatos, eu já tenho o esquema de gato na imaginação, não preciso da imagem do gato pra saber que um gato é um gato. Já reconheço qualquer gato, por mais diferente que seja, usando meu esquema de gato. Deu pra entender até aqui? Aí os esquemas vão para a inteligência e lá eles viram conceito como, por exemplo, o conceito de gato. Com o conceito de gato pronto posso não só reconhecer gatos mas posso descrevê-los para uma outra pessoa, posso conversar sobre isso.

Platão dizia aos seus alunos da Academia que “verdade conhecida é verdade obedecida“. Ele tem razão, ao sabermos o que é reto, o que é certo, devemos caminhar nesta direção. A questão central é que não basta saber a verdade através da inteligência. É preciso que a verdade seja obedecida também pela vontade, pelo sentimento, pela imaginação, pela memória, pelos sentidos. Todas essas funções, os sentidos, a imaginação, a memória, o sentimento, a vontade precisam ser ordenadas para se submeterem à inteligência. O homem íntegro, inteiro, é o aquele cuja inteligência submete as demais funções cognitivas, isto é, funções do conhecer. Para alcançar esse ordenamento interior é preciso disciplina mas sobretudo é preciso da assistência da Graça de Deus. É preciso, como diz Dom Luigi Giussani, que o homem mendigue o coração de Cristo assim como Cristo mendiga o coração do homem. É preciso a humildade de pedir, mendigar, a graça de se tornar uma pessoa melhor e mais próxima de Cristo.

Stella Caymmi

Stella Caymmi é jornalista, escritora e Professora Doutora em literatura brasileira.